Notícias STFSexta-feira, 31 de agosto de 2012Epidemiologista questiona estudos ocupacionais e ambientais sobre uso do amianto
O epidemiologista italiano Benedetto Teracini, responsável por estudos epidemiológicos sobre o efeitos do amianto na região de Piemonte, na Itália, questionou, em sua exposição na audiência pública realizada no Supremo Tribunal Federal, os resultados apresentados por estudos brasileiros sobre o tema. Ele demonstrou o que considera falhas metodológicas que comprometem a confiabilidade dos estudos. Ele se apresentou na audiência pública por indicação da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA).
Teracini atuou como consultor do juiz e, em alguns casos, da acusação em vários processos sobre doenças relacionadas ao amianto em Casale Monferrato, onde se registraram 4 mil mortes num período de 40 anos entre trabalhadores e, na mesma área, um surto de mesotelioma na população em geral. O especialista classifica o caso como “uma verdadeira tragédia”, e disse que ainda ocorrem cerca de 40 novos casos por ano “em pessoas que jamais trabalharam com o amianto, mas foram expostos a ele no meio ambiente”. A situação em Casale Monferrato resultou na condenação, pela Justiça de Turim, dos proprietários de uma empresa do ramo a 16 anos de reclusão.
Com base no conhecimento acumulado ao longo da carreira médica e científica, Terracini questionou dois estudos epidemiológicos realizados recentemente no Brasil – o acompanhamento de trabalhadores das minas de São Félix e Canabrava, de 2005, e uma avaliação dos riscos à saúde de viver pelo menos 15 anos em casas com telhas de amianto.
O primeiro tinha por objetivo estudar as consequências da melhoria dos locais de trabalho ao longo de seis décadas nas minas de amianto. Segundo o epidemiologista, o resultado obtido não garante que os trabalhadores contratados mais recentemente nas minas estejam livres de qualquer risco de desenvolver doenças, sobretudo devido ao longo período de latência das patologias relacionadas ao amianto.
“O estudo compara grupos diferentes de trabalhadores – em períodos diferentes e com diferentes condições de trabalho, dos mais precários nas décadas de 40-60 até os mais recentes, após a adoção de medidas de controle ambiental”, explicou. Entre as falhas apontadas, Terracini citou erros na seleção da amostragem e o pouco tempo de acompanhamento dos trabalhadores do último grupo, que dispõem do maior nível de proteção da história da mina. Mencionou também a inexistência de levantamentos de casos de câncer. “De acordo com minha experiência na Itália, você identifica casos de mesotelioma se procurar por eles. Se não procurar, não vai achá-los”, concluiu.
No segundo estudo, o objetivo era avaliar os riscos e os efeitos à saúde de residir em casas com telhas de amianto por mais de 15 anos, por meio de entrevistas e análises clínicas da função respiratória em 550 pessoas aparentemente saudáveis. Nele, o especialista italiano questionou a base lógica, uma vez que, de acordo com a literatura científica, não é esperado que tais níveis de exposição comprometam a função respiratória. “Nesses níveis, considerados ‘baixos’, a preocupação principal são os riscos de mesotelioma, e este não era objeto do estudo”, assinalou.
Benedetto Teracini encerrou falando sobre o que se aprendeu com a experiência de Casale Monferrato. “Os mais expostos foram os trabalhadores que atuavam na colocação, substituição e manutenção de telhas de amianto, como pedreiros e assentadores de tijolos e de telhados”, afirmou. “Mas aprendemos que há outras fontes de exposição para a população em geral nas vizinhanças da fábrica, como no uso inadequado de resíduos do processo industrial do amianto para pavimentar espaços como praças e quintais, na utilização de flocos e fibras para isolamento térmico e no transporte do amianto.”
CF/EH
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